Uma pergunta: Você está agora, neste momento, muito alegre por algum motivo particular, digamos alguma conquista ou recente experiência, memorável?
Tenho uma péssima notícia para você. Isso vai passar.
Próxima pergunta: Você está agora muito triste, melancólico, cabisbaixo por algo que lhe aconteceu, que lhe contrariou, abalou e tirou seu ânimo? Pois calma, vai passar. A vida passa. Você passa. O que você tem e o que você sente também passam. Se não tiver cuidado até mesmo o que você é passa. Como dizia um grande amigo, até “uva passa”.
Pense em suas conquistas anteriores. Lembra daquele sentimento bom que lhe invadia, aquela alegria incontrolável por ter comprado o carro novo, começado o namoro tão desejado, conquistado o emprego tão disputado, entrado na universidade tão sonhada? Pois passou. “Ah, eu queria que esse momento jamais acabasse, que durasse eternamente...” Ilusão, pura fantasia descolada da realidade! Da mesma forma, lembra de todas aquelas vezes que você queria morrer por estar enfrentando um dilema, um conflito ou um trauma que certas circunstâncias da vida lhe proporcionaram, ou algo que sua própria decisão equivocada lhe causou? Também passou.
Não tem jeito, tudo isso passa. Ora, se essa é uma verdade inquestionável, a de que tudo passa, porque não nos preparamos e nos aquietamos diante da infalível volatilidade da vida. Porque nos falta a esperança quando estamos no fundo dos poços emocionais? Porque nos faltam a cautela e o zelo quando estamos no cume das alegrias momentâneas? Existem pessoas que pensam que tudo permanece. Têm um olhar momentâneo, de curto prazo. São incapazes de perceberem a vida como um filme. Só conseguem ver a foto revelada no instante que vivem suas emoções. Não se aquietam, não esperam, não deixam que o senhor da razão, o tempo, faça sua parte, fazendo passar o que por poucos instantes já foi. A dor chega, se instala, nos mói, nos faz contorcer e, quando vai embora, dizemos: PASSOU. O ônibus que se foi e não alcançamos PASSOU. Mas nos conformamos: “vamos esperar o próximo”. A namorada ou namorado que não são mais, são, agora, passado. “PASSA esse prato, por favor”. Passamos também a pergunta que não sabemos. Até o que é inerte passa. Ou por casa não passa uma certa rua próxima de sua casa. Mas como pode uma rua passar? Simples: é porque por ela passam.
Passe também o que não mais lhe serve para frente, deixe que alguém continue a usá-lo. Ou então, passe aquela roupa amassada, use-a, mesmo que você tenha certeza que ela irá amassar novamente, e mais uma vez precisará ser passada. Não tem jeito, a vida vai e vem e tudo passa. Nem mesmo aqueles que afirmam ficar, ficam. Porque se vivem, mudam. E se mudam, passam, mesmo que no mesmo lugar. Tudo passa. Você passa. Os mais antigos costumavam chamar a morte de passamento. Alguns ainda a definem como passagem. Dizem que o fulano “passou dessa para uma melhor”. Conta-se até uma lenda, que um turista americano viajou vários dias para conhecer um grande guru indiano. Chegando na casa dele, de mala em punho, assustou-se pela casa não ter praticamente nada, a não ser uma cama, uma mesa, uma cadeira, uma prateleira e muitos livros. E ele perguntou ao guru: “Mas o senhor só tem isso?” No que o guru respondeu com uma pergunta: “E você, só tem esta mala?” O turista respondeu: “Sim, mas eu estou aqui só de passagem”. No que o guru devolveu: “Meu filho, nesta vida, eu também”.
Paulo Angelim